As bicicletas são …
As bicicletas são …
Fazer um paralelismo entre bicicletas e mulheres poderá parecer um pouco descabido ou até pejorativo. Nada disso. É até um elogio a ambas. Umas e outras precisam de atenção permanente.
A minha Allez (Specialized), por exemplo, é aquela mulher de meia-idade, cheia de estilo, que transpira sensualidade. Apresenta toda uma dicotomia que lhe dá um certo charme. Aquele “125 azul”, bordejado de tons brancos, sem mais nem menos, nos remete facilmente para a imensidão do mar, onde o céu se reflecte, uma peça de roupa que denuncia a sua feminilidade. É aquela mulher franzina, simpática e afável, mas cheia de personalidade. O amarelo do guiador e do selim são os adereços.
É aquela mulher discreta, que uma vez fixada, não nos deixa, de todo, indiferentes. Como qualquer mulher, deve ser tratada com tacto e sensibilidade. Convém perceber a forma como se expressa para não esticar a corda de forma prematura e desnecessária. Não é perfeita, antes pelo contrário. Apresenta algumas lacunas quando comparada com mulheres mais jovens e mais ligadas à tecnologia, mas não se deixa intimidar nem acusa o peso da idade. Pode não estar dentro dos parâmetros generalistas actuais, mas tem uma imagem intemporal e única, destacando-se pela simbiose perfeita entre beleza, carácter e simplicidade. Há bem pouco tempo foi submetida a um “lifting” forçado. Não para ficar mais bonita, apenas vítima de violento acidente que a obrigou a anestesia geral e entrar no bloco operatório. Voltou ainda mais sensual.
A minha EPIC 29er é aquela mulher jovem, toda modernaça, bonita e desafiante, algo musculada, tipo aquela garota que vai regulamente ao ginásio, que calça um 42 biqueira larga, mas mesmo assim com aquele ar “não sei quê” de cativante, com muita vontade de abordar, que mostra muito daquilo é. Tem uma silhueta alta e musculada, policromática, simples mas elegante, onde o branco domina e o preto e o vermelho são cores minimalistas. Dona de uma beleza relativa, porventura menos explícita e nada extravagante. Não sendo discreta, facilmente passa despercebida no meio da multidão. Só os verdadeiros apreciadores se quedarão com a sua presença.
É uma mulher, que não deslumbrando, tem algo de misterioso e cativante.
Relacionar-me com ela é que não tem sido nada fácil. Faz-me lembrar aqueles casamentos em segundas núpcias onde a primeira mulher é referência. Não é perfeita nem anda lá muito perto. Direi até que tem um lado selvagem que ainda não aprendi a dominar. Uma potra que está agora a sair do picadeiro. Extremamente exigente e até teimosa na sua firmeza, que me traz algo desconsertado. É certo que ainda estamos em “lua-de-mel”, onde eu transporto os defeitos de um anterior relacionamento e ela a irreverência da sua juventude. Mas estamos a adaptar-nos bem, mas muito lentamente. Ainda não sinto aquela “cumplicidade” e aquele à vontade de uma verdadeira união e duvido até que algum dia isso venha a acontecer. O relacionamento com a velhinha GIANT (Anthem x2) foi\é demasiado forte. Foram sete anos de encanto e um magnetismo que ainda nos atrai de forma inexplicável.
Há um velho ditado que diz que quem o feio ama bonito lhe parece.
A relação com as minhas bicicletas é tudo menos pacífica. Atribulada, até. Conflituosa, mesmo. Uma relação de amor/ódio.
Para mim são como duas mulheres. Cada uma no seu estilo.
A primeira, uma senhora de meia-idade, bem vestida, que sai à rua de salto alto. A segunda, uma “teenager”, que a irreverência da idade faz com que saia sempre de calça de ganga e t-shirt e nos pés botas de tracking, sempre por maus caminhos e chega a casa toda emlabregada, envolta em lama e poeira.
Ah, as mulheres necessitam permanentemente de elogios!
P.S. Este “post” foi escrito p/ o blog “LOVE THE ROAD AND THE TRAILS da BIKESTUDIO” a pedido do amigalhaço Carlos Russo, “Ninja” para os amigos, tendo como tema as bicicletas e o ciclismo!
texto: Carlos Gonçalves
fotografias: Carlos Gonçalves


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